Eu não queria fazer mais um explicação da importância da obra, mas me ater em algumas características da impressão, da estética e da própria língua portuguesa escrita por volta de 1570.
A obra segue a estética das obras clássicas iniciadas por Aldo Manucio. Basta olha para uma Bíblia de Gutemberg que se ver quanto foi inovador o estilo de Aldo. A Bíblia de Gutemberg tem uma estética barroca, cheia de cores e detalhes. Era uma obra cara, feita para poucos. Mas a prensa de Aldo era mais popular, fazia obras menores e limpas, com poucos detalhes.
Quanto as letras, Aldus foi quem criou as fontes proporcionais, ou seja, aquelas onde cada letra ocupa um espaço diferente. Também é o criador das fontes itálicas. Tudo isso para aumentar a quantidade de texto em cada página e reduzir o preço dos livros. Na obra de Camões vemos a forma da prensa aldina de compor livros.
Duas curiosidades: A primeira é que o título foi separado por hífen. Isso hoje seria considerado um absurdo, mas no tempo de Camões a estética da capa era mais importante que a integridade do título.
Outra é o uso da letra grega beta (ß) para substituir o "ss". Esse costume ainda é normal em alguns idiomas como o Alemão (caiu na última reforma ortográfica, se não me engano em 1996). No alemão o "ß" é chamado de Ezsett.
A origem do caracter ß no português antigo é bem interessante, foi um simples confussão visual que tornou um erro numa regra. O caracter ß resulta da ligação visual entre o caracter ſ (equivalente a um "s" longo) e o caracter s. Explica-se, portanto, o uso do ß por Camões.
Só para você acompanhar. O trecho ao lado é o seguinte:
"As armas, e os barões assinalados,
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram, ainda além da Taprobana,
Em perigos, e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana.
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram."
Esse é o primeiro verso do primeiro canto do Lusíadas.
AQUI!! Você pode baixar o livro, com alguma paciência ler Camões nos originais!!!
Prelo Digital também é cultura. Cultura de comunicação impressa.
4 comentários:
Cláudio, arretado o site onde você achou o Camões. Navegando nas profundezas da internet e usando emule, torrent etc & tal, encontrei um PDF interessante: "The Manual of Linotype Typography", editado pela Mergenthaler Linotype Company de niu iorque em 1923.
Escaneado por algum tarado (tem 273 páginas e 120MB), o livro se propõe a "aid Users and Producers of Printing in securing Greater Unity and Real Beauty in te Printed Page".
Essa jóia é vendida por até US$ 235!!(http://www.iobabooks.com/books/2841783.html). Mas graças ao Bom Jesus dos Bucaneiros, pode ser encontrada nas melhores esquinas da paróquia
Obs.1: depois te digo um ftp...
Obs.2: o Blog do Santinha agora tem podcast, olha que beleza: http://www.blogdosantinha.com/na-parede-da-memoria/radio-do-santinha-1-santa-cruz-5-x-o-coisa-1976/
Obrigado pela dica Anízio. Se o espírito não em engana o proprietário do livro digitalizado de Mergenthaler é um dos fundadores da Adobe, John Warnock.
Ele criou uma empresa para comercializar livros raros no formato digital por volta de 1997 e esse foi o livro de lançamento. Não sei qual foi o fim da empresa.
Tanto o Ottmar Mergenthaler como o John Warnock são herois da nossa profissão de produtores gráficos e com certeza vão merecer muito espaço aqui no nosso blog.
1923? Já não seria domínio público?
É verdade Renan.
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